DebatesGestão HospitalarprincipalRouparia / Lavanderia

Enxoval: Gestão adequada diminui gastos e garante segurança

ESPECIAL – Enxoval: Gestão adequada diminui gastos e garante segurança

Como escolher e dar tratamento adequado para tornar o enxoval um aliado importante da boa administração e do combate às infecções.

FONTE: www.revistahospitaisbrasil.com.br

05/03/2013

Por Carol Gonçalves

Quando se abordam as condições de higiene e conservação de materiais dentro das instituições de saúde, deve-se ter em mente que a qualidade de tudo que entra e sai do prédio nunca é uma opção, mas, sempre, uma necessidade. Nesta matéria especial, abordamos um item importante, que precisa ser manuseado com cuidado para evitar contaminações e infecções: o enxoval.

Há uma infinidade de normas, regras e paradigmas (além do bom senso) que devem ser levadas em consideração desde a seleção do enxoval hospitalar até o momento do descarte. É o que destaca Roberto Maia Farias, mestre em Administração, com especialização em Administração em RH, Hospitalar e Hoteleira.

Ele explica que ao escolher o enxoval hospitalar, devem-se considerar os fatores de conforto, adequação técnica, vida útil contábil e segurança sanitária. “A aquisição pelo menor preço pode comprometer novos recursos financeiros por futuras reposições não programadas. A compra deve ser realizada pelo custo e retorno do investimento (médio e longo prazo) e não apenas pelos ‘menores gastos’ no curto prazo. Isso afeta a qualidade e a rentabilidade da organização”, avisa.

Os dois principais fatores de atenção no momento da compra são: a qualidade técnica e a quantidade do enxoval. Qualidade sem quantidade ou quantidade sem qualidade impactam, negativamente no conforto, vida útil, segurança sanitária e retorno sobre o investimento.

As normas ABNT NBR devem servir de guias da qualidade, já a quantidade varia com a localização geográfica, parte da base de cálculo do gestor ou conforme recomendação da Anvisa. Farias explica que o estoque inicial deverá ser controlado como um conjunto de peças do ciclo operacional (novas, em uso, conserto e peças para transformação e reparos). O número de mudas (giro da roupa) representa a quantidade de peças circulantes da lavanderia (leito, lavanderia e rouparia – prontas para uso). Com a terceirização, o tempo de retenção para processamento da roupa (lead time) deve ser incluído como tempo de ciclo.

Em relação aos tecidos, eles devem atender aos padrões exigidos pela ABNT (13734:1996). O enxoval é classificado em T1 (avental, bota, camisola), T2 (felpudos), T3 e T4 (campos cirúrgicos e sacos hamper), T5 (cobertores), T6 (lençóis, fronhas, pijamas) e T7 (colchas). As peças do T1 ao T4 mais o T7 podem ser 100% de algodão; já os T5 e T6 podem ser mistos – 50% algodão e 50% poliéster.

“Utiliza-se em especial os tecidos 100% algodão, pois o poliéster limita o uso de certos equipamentos hospitalares, tais como bisturi elétrico, pois não descarrega a eletricidade estática e também absorve a gordura, como suor, pomadas e cremes, que promovem manchas de difícil remoção”, acrescenta o especialista.

No cuidado com as peças, Farias destaca que os tecidos adequados, mas em condições adversas, perdem características de qualidade, podem onerar os custos hospitalares e tornarem-se tão frágeis quanto os tecnicamente inadequados. “O triângulo da vida útil dos tecidos é composto por composição, tratamento (lavagem) e manuseio”, ensina.

Os danos podem ocorrer em qualquer uma das etapas de lavagem, centrifugação, secagem, calandragem, transporte e estocagem. A melhor alternativa é o controle das etapas do processo. A ABNT também normatiza ensaios como métodos de controle da vida útil do enxoval como determinação da gramatura, fricção e resistência à tração, o que o entrevistado recomenda.

O controle da resistência aos danos é uma medida de gestão do enxoval. A tabela (padrão internacional) da WKF ou TNO estabelece padrões da perda da resistência à tração após 20 (WKF) e 25 (TNO) lavagens, parâmetros do IFI, hoje DLI. Se os parâmetros estiverem em acordo com as tabelas de padronização, é possível afirmar que, além de uma boa aquisição, os cuidados de manuseio e tratamento estão sendo satisfatórios.

O tempo de vida útil do enxoval deve atender ao retorno sobre o investimento. As peças que foram adquiridas com tempo de durabilidade para 50/100/200 utilizações (vida útil) devem ser assim controladas e alocadas nos custos das intervenções ou hotelaria. Primeiro pela segurança do paciente, segundo pelo aspecto financeiro. “Os fabricantes de tecidos podem confirmar o limite mínimo de vida útil, porém o uso e o tratamento são elementos de garantia desse desempenho”, conta Farias.

Quanto ao destino correto das peças, não existe nada específico em normas brasileiras para a área hospitalar, no entanto, na avaliação dos técnicos e membros da Anvisa, no momento do descarte é preciso distinguir o aproveitamento de sobras de tecidos que não foram utilizados pelos serviços de saúde das peças. Para produtos já empregados e descartados após o fim da vida útil, é obrigatória a desinfecção e a lavagem antes do reaproveitamento do material para outras finalidades. Caso contrário, a unidade de saúde deverá enquadrar o tecido como resíduo e dar destinação específica, de acordo com o grupo de risco biológico, químico, radioativo ou perfurocortante, definido na legislação sanitária.

Na prática

No Hospital Monte Sinai, de Juiz de Fora, MG, o setor de lavanderia é responsável pelo planejamento e utilização do enxoval, cuja compra é definida a partir dos dados do inventário, realizado semestralmente, quantificando-se o percentual de perdas e definindo-se a quantidade de peças a serem adquiridas, com o objetivo de recompor as quatro mudas do enxoval (em uso, rouparia do andar, lavagem e estoque).

Os tecidos mais utilizados são os enxovais cirúrgicos e mantas 100% algodão, além de lençóis, fronhas e colchas, 50% algodão e 50% poliéster. Todas as peças têm tratamento antialérgico e antipilling, mercerização nos brins, sanforização nos tecidos e processo indanthren (fixação de cor).

A Coordenadora da Lavanderia, Janaína Reis, e o Gerente de Hotelaria, Luiz Carlos Farhat M. Narciso, explicam que após a definição da compra do enxoval, é solicitado aos fornecedores que apresentem seus portfólios para avaliação.

A equipe de hotelaria avalia todo o material, as tendências de mercado e adapta a compra às necessidades do usuário. “A personalização e a identificação das peças são feitas a partir da impressão da logomarca da instituição, adequando modelo, modelagem, tipo de fibras e tecidos para atender o paciente, gerando conforto e qualidade”, salientam.

Em relação à lavagem do enxoval, os profissionais explicam que o Hospital Monte Sinai possui uma unidade de processamento cuja finalidade é coletar a roupa na unidade geradora, pesar, separar por sujidade, processar, reparar e distribuí-la em condição de uso, higiene, qualidade, quantidade e conservação em todas as unidades do serviço de saúde.

A etapa da higienização consiste na remoção de manchas e elementos impregnantes, que envolve elementos físicos, químicos, ação do tempo e temperatura, dividida em: enxágues, umectação, pré-lavagem, lavagem, alvejamento e desinfecção, neutralização e amaciamento. “Todos nossos produtos químicos são aprovados pela Anvisa, registrados como saneantes na linha de lavanderia, e passam pela aprovação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar – CCIH”, salientam.

Os equipamentos utilizados na instituição são: duas lavadoras (50 kg, 100 kg ); uma lavadora/extratora (120 kg) com processos automatizados; duas centrífugas (30 kg e 50 kg); três secadoras (20 kg, 50 kg e 100 kg) e uma calandra monorolo.

No hospital, o enxoval é avaliado diariamente, durante as etapas da passadoria e dobra, que têm por finalidade selecionar as peças de qualidade para uso. Sendo assim, a média de durabilidade varia de 420 a 530 ciclos de lavagem.

Quando é definido que os enxovais não serão mais utilizados, eles são transformados em peças para higienização de superfície. Não havendo mais possibilidade de uso das peças, após higienizadas, são descartadas como resíduo comum de acordo com a RDC N° 06, de 30/01/2012.

Outro exemplo é o Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, RS, onde a compra é planejada focando requisitos como qualidade e quantidade necessária para a operação. Nesta quantidade, estima-se enxoval para atender o rol diário estabelecido, considerando ocupação, reposições de peças eliminadas e um percentual de evasão. “O enxoval para novas áreas é estimado ainda no projeto, e a gestão de todo o material ocorre na área de hotelaria, que faz parte da Gerência de Hospitalidade”, explicam Leticia Bins, Gerente de Hospitalidade, e Liane Piccoli, Supervisora de Hospedagem.

Os lençóis e fronhas devem ter toque macio e não amassar com facilidade, por isso, a opção é pela composição de 180 fios, 50% algodão e 50% poliéster. Atoalhados são de 90% algodão.

O enxoval branco finalizado com cobre leito de piquet caracteriza as camas da instituição, oferecendo um visual mais agradável. Os lençóis e fronhas são personalizados com barra contendo o nome do hospital, e as demais peças apresentam o logotipo. As barras são adotadas há mais de 30 anos, e se tornaram uma das marcas da instituição.

O tratamento do enxoval ocorre em parceria com duas lavanderias terceirizadas, e a gestão destes contratos é realizada com avaliação de indicadores em reuniões mensais e visitas periódicas aos estabelecimentos. O controle de qualidade é realizado diariamente através da aferição de peças (dobra, passadoria, cheiro, higienização), seguindo protocolo acordado entre a instituição e as lavanderias. A seleção desses parceiros segue normas da JCI (Joint Commission International).

A rotina de entrada e saída do enxoval da instituição para a lavanderia é realizada por peso, gerando dado de percentual de sujidade e controle de retenção de roupa por parte da lavanderia. São realizados quatro inventários ao ano, possibilitando alimentar indicadores de evasão, enxoval por leito, peças eliminadas e transformadas.

“Nosso enxoval é continuamente reposto, o que garante a qualidade”, acrescentam as profissionais. Peças que não cumprem os requisitos de qualidade são doadas para instituições definidas pela área social, depois do tratamento adequado.

Tecnologia

Uma forma de garantir total controle sobre o enxoval é utilizar ferramentas que permitam o seu monitoramento a partir da contagem das peças, que pode ser convencional, mecânica ou com o auxílio da informática. No entanto, o especialista Farias alerta que a tecnologia promove a “velocidade” na coleta dos dados, mas não garante a qualidade da informação. Segundo ele, “instalar artefatos sem a disciplina do controle é uma inadequação de qualidade e não deve ser praticada.”

Para monitorar as peças, dois modelos de tecnologia podem ser utilizados: o barcode (código de barras) e o RFID (radiofrequência). “O barcode é mais barato por unidade, porém tem como restrições o manuseio das peças sujas, que, segundo a NR 32, deve ser mínino. O RFID (chip) é o recurso mais adequado, de maior qualidade de registro, porém ainda é considerado de alto custo, embora essa avaliação dependa do foco dado à gestão do enxoval”, compara.

Há poucos hospitais no Brasil que utilizam o RFID para gestão do enxoval, e o Hospital Municipal São José, de Joinville, SC, é um deles, faltando apenas o enxoval cirúrgico para completar o processo de implantação.

A ideia é que todas as roupas de cama e cirúrgicas, uniformes e cobertores tenham um chip, que é colocado em um pouch (pequena bolsa) e costurado em locais estratégicos para leitura na antena de controle. “Nossa parceira é a Clinilav’s Lavanderia, que além de responsável pela higienização do enxoval também nos apresentou esta solução para gestão e rastreabilidade”, revela Marcos Germano Richartz, Supervisor de Hotelaria do hospital.

Com essa tecnologia, é possível monitorar toda a logística de distribuição, recolhimento, envio para a lavanderia e entrega do material limpo novamente ao hospital. Além disso, ficam disponíveis em um banco de dados a quantidade de peças, o peso total, para que setor foi enviado, a data e o horário. Também é monitorado o tempo de duração de cada peça, podendo dessa forma ser analisada a qualidade do tecido. Com esse chip, o hospital tem total controle de furtos e extravios das peças catalogadas.

“Visando à redução de custos com hotelaria, o sistema baseado em RFID viabiliza a realização de inventários e geração de mapas de consumo de roupas, ferramentas poderosas para gerência, otimização e administração do consumo de enxoval, possibilitando a redução dos custos diretos e indiretos”, completa Tatiane Maia, Gestora da Qualidade Clinilav’s.

Segundo Richartz, hoje já pode ser avaliado o volume de consumo do enxoval do hospital por tipo e artigo, permitindo uma gestão de uso e distribuição muito mais qualificadas. “Ainda não fizemos nenhum inventário completo, mas já visualizamos no sistema que algumas peças deixaram de circular, o que indica perda ou evasão”, constata.

Para finalizar, Tatiane conta que não são necessários cuidados especiais para uso e manuseio do enxoval com o chip, e que ele pode ser aplicado em qualquer peça, com exceção de itens descartáveis.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo